O Designer Valorizado – Parte 1
Nigel Whiteley é autor de vários artigos sobre arte, arquitetura e design, além de ter publicado os livros Design for Society e Pop Design: Modernism to Mod. Ele também foi professor em universidades de vários países, como China, Índia e Inglaterra. Convivendo com estudantes, professores e profissionais de design de diferentes lugares ao redor do mundo, Whiteley identificou alguns modelos em nossa profissão, consequência de uma prática de ensino que não é incorreta, mas talvez insuficiente ou precária.
Os cinco tipos de designer, segundo Nigel Whiteley
Primeiramente, o designer formalizado. É aquele que busca, em seus projetos, a funcionalidade máxima, a utilização dos materiais apropriados, os melhores e mais adequados métodos e processos de fabricação. Ele também questiona, acima de tudo, a forma, função e proporção de seus produtos. Esse modelo é criado em instituições que condenam a parte teórica (e até filosófica) do design, tendo princípios enraizados no Modernismo, mais precisamente na Bauhaus. São indivíduos de “cabeça muito dura”, como descrito por Whiteley.
Já o designer teorizado é o oposto do formalizado. Esse modelo de designer é oriundo de universidades onde são obrigados a digerir uma quantidade exagerada de Baudrillard, Derrida, Foucault, Heidegger e outros tantos filósofos, tendo assim, uma base fundamentada em teorias do design. Os alunos dessas instituições passam por uma grade curricular geralmente muito semelhante a dos estudantes de história da arte, pois segundo elas, “o aluno precisa estudar ‘teoria’, porque a ‘teoria’ informa e explica todos os outros tipos de discurso”. O grande problema desse modelo é que, mesmo com uma grande absorção e entendimento de teorias, esses futuros designers geralmente são incapazes de relacionar seu conhecimento teórico com seu trabalho prático em oficinas ou laboratórios.
Também temos o designer politizado, ligado ao modelo anterior, mas com origem nos ideais defendidos pelo Construtivismo Russo após 1917. Segundo Whiteley, esse modelo possui algumas variantes: o designer radical do final da década de 1960 deu lugar ao designer responsável da década de 1970, que nos anos de 1980 começou a dar mais atenção para as questões ambientais. Esse designer “verde” ou “ecológico” deu lugar ao designer ético da década de 1990, onde passou a perceber o design como um fenômeno visceralmente ligado ao consumo, com uma relação íntima com o sistema político e social. Os partidários desse modelo possuem uma certa tendência a pressupor que tanto o processo de design quanto o de consumo são racionais, onde as pessoas agirão de “forma correta” e tomarão decisões “sensatas”.
Como modelo mais comum de designer, temos o designer consumista. Não é o designer que consome, mas sim aquele que projeta focando sempre o consumo. Possui habilidades e conhece técnicas que são úteis para desenvolvimento de projetos para empresas e na indústria, mas não se preocupam devidamente com os efeitos ambientais, sociais, morais ou pessoais que seus produtos terão quando produzidos. Na parte teórica, seu aprendizado praticamente se resume a metodologias básicas de design, marketing, como fazer contratos, como vender um design e outras práticas de ensino direcionadas a “exigências profissionais” e “realidades de mercado”, defendidas pelas instituições que formam esse tipo de designer. Nesse modelo, estudos e análises históricas e ideológicas em design são, em grande parte dos casos, inexistentes.
O último modelo descrito por Whiteley é o designer tecnológico. Com a evolução da informática e o constante avanço tecnológico, muitos designers e professores de design acabam desenvolvendo um certo fanatismo, afirmando que a tecnologia mais avançada oferece a melhor solução – nesse modelo, a tecnologia sempre possui a resposta. Semelhante ao modelo consumista, o designer tecnológico também evita reflexões críticas e debates profundos.
Conclusão
Todos os modelos citados acima possuem certas limitações. É necessário desenvolver um novo modelo de ensino, que seja adequado às necessidades de nossa sociedade, de nosso mundo e que transforme o estudante em um profissional sofisticado, que deve estar bem informado e capaz de discutir e refletir de forma crítica, além de ser criativo em termos de projeto. Esse mesmo profissional deve ter pleno conhecimento dos valores do design, além de saber conciliar e unir teoria e prática, a fim de complementar suas aptidões e qualidades, de forma construtiva. Esse é o modelo ideal, é o designer valorizado.
E você, consegue identificar suas habilidades, sua formação e seus ideais e práticas em design em algum dos modelos apresentados por Nigel Whiteley? Ou você não deseja se encaixar em nenhum deles, mas tem como objetivo ser um designer valorizado?
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